Livro: O sol é para todos
Harper Lee
Título Original: "To kill a mockingbird"
“Só existe um tipo de gente:
gente.”
Em
agosto, mergulhada no sul dos Estados Unidos do início do século XX, cidade de
Maycomb.
Toda
cultura será perdoada? Todos os erros e atrocidades cometidas sob a guarda dos
costumes de uma sociedade são dignos de compreensão? Scout Finch, nossa pequena
narradora, aprende e nos ensina, descobre e questiona, entende e se confunde.
Com olhos de criança e mergulhada em uma cidade cujos costumes parecem pétreos,
indestrutíveis, porém nunca naturais, aceitáveis ou isentos de questionamento,
a menina passeia pela humanidade. Como sempre, não me atrevo a descrever a
narrativa em sinopse ou a tecer críticas a respeito da obra, mas me permito
derramar aqui um pouco do turbilhão de sentimentos que me prenderam, sufocaram,
me causaram febre e alívio, durante a leitura doce e amarga deste livro.
Mais
uma vez caiu em minhas mãos um exemplar antigo e velho, com cheiro antigo e
velho, cor antiga e velha, o que me pareceu bastante adequado, já que
preconceito, ignorância e segregação racial têm cheiro de mofo. Poderia
facilmente renomear inúmeros personagens com nomes de fungos. Ânsia de vômito,
febre constante, aperto no peito e desesperança envolveram aquelas páginas
amarelas. Inevitável não lembrar de Chico: "Não tem mais jeito, a gente
não tem cura." Ah, humanos, malditos humanos...
Mas é preciso ter brilho
no olho pra sobreviver e viver por aqui, não é mesmo? Há um brilho de
esperança, pequeno e forte, cheio de vida e promessa de um futuro mais justo. A
casa dos Finch é luz naquela cidade; é apedrejada e admirada; é gota d'água
integrante de uma grande mudança. Atticus nos ensina que é preciso ser honesto
consigo mesmo, fazer a nossa parte, mesmo que pequena, mesmo que ninguém
entenda, mesmo que invisível ou condenada por tantos. É a passos pequenos que se
segue. Daí, Chico mais uma vez me salva: "Amanhã vai ser outro dia."
Atticus,
Jem, Scout, Calpurnia, eu vos abraço e agradeço. Concluir a leitura de um bom
livro é sempre doloroso pra mim. A leitura da última página é cheia de saudade
e vazia de conformismo. Desta vez, porém, seguem comigo os Finch e a esperança.
FRASES DO LIVRO para degustar:
“Quando crescer, todos os
dias você verá brancos ludibriando negros, mas deixe-me dizer uma coisa, e
nunca se esqueça disso: sempre que um branco trata um negro desta forma, não
importa quem seja ele, o seu grau de riqueza ou a linhagem de sua família, esse
homem branco é lixo.”
“Existem pessoas que se preocupam tanto com o
Outro Mundo que nunca aprendem a viver neste.”
“Antes de poder viver com os
outros, eu tenho de viver comigo mesmo. A consciência de um indivíduo não deve
subordinar-se à lei da maioria.”
“Eu queria que você visse o
que é realmente coragem, em vez de pensar que coragem é um homem com uma arma
na mão. Coragem é quando você sabe que está derrotado antes mesmo de começar,
mas começa assim mesmo, e vai até o fim, apesar de tudo. Raramente a gente
vence, mas isso pode até acontecer.”
“Andar armado é um convite
para alguém atirar na gente”.
“Só existe um tipo de gente:
gente.”