terça-feira, 4 de novembro de 2014

UM LIVRO PARA OUTUBRO



TODA POESIA 
Autor: Paulo Leminski 
Editora: Companhia das Letras

       Passei outubro mergulhada no laranja, no apaixonante livro TODA POESIA de Paulo Leminski.
      Não há como não se perder nos textos do poeta curitibano. Os textos breves, em sua maioria, brincam com as palavras em trocadilhos simples, que, de tão simples, nos fazem imergir em nós mesmos ou em algum lugar escondido e esquecido dentro de nós. O simples transforma-se no tudo, no essencial.     
     Confesso que poderia descrever Leminski, a partir da minha leitura, como um poeta do simples e do grosso. Sim, às vezes falta delicadeza nas palavras, mas é justamente essa grosseria da casca da laranja que nos faz enxergar o óbvio, aquilo que estava ali o tempo inteiro e ninguém viu. De vez em quando, a delicadeza surge e nos surpreende no meio do concretismo bagunçado, e é bem aí, no meio da bagunça, que nos encontramos.


                                                                                                Fotografia: Universidade de Fortaleza - Ceará.

Um aperitivo:


Dor elegante
Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiante

Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha

Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nesse dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra

A lua no cinema
A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.

Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!

Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.

A lua ficou tão triste
com aquela história de amor
que até hoje a lua insiste:
— Amanheça, por favor!