quinta-feira, 30 de maio de 2013

São só rabiscos...


Hoje 
minha máscara 
chora 
dois litros de mar 
e vodca...

Por hoje...



Intervalo

Numa tarde quieta
Só as ondas falam
Deixa
Elas que sabem o que dizem
Elas é que tem razão
Melhor calar e ouvi-las
Mas escuta bem
É preciso estar atento
Elas só  falam uma vez
E as conchas nem tudo gravam
Sim, elas vão e vem
Mas quando vem
Já são outras
Então, escuta bem

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Quando olho pela janela...


Sinal Amarelo

       Às vezes me dá aquela vontade, mergulhada na angústia, de virar as costas. É muito simples, é covarde, é fraqueza por demais da conta, não é amigo? Não é não. É preciso o dobro de coragem pra dizer não pra aqueles livros de autoajuda de leitura desesperadora. Na real, ninguém precisa encarar tudo de frente, mergulhar de peito aberto, chorar de cabeça erguida, maltratar o coração, só pra dizer depois, com a alma aos pedaços: Eu não desisti. Ah, não, por favor! Fuja, desista, se esconda em baixo da cama. Você pode. Não vivemos no jogo do “vamos ver quem sofre mais”. Chega dessa história de que sofrimento é remissão, de que sacrifício, necessariamente, vem seguido de recompensa. Não vem não, hein? Nem sempre. Chega dessa história de que Deus ama os oprimidos, os fracos, os necessitados.  Deixa essa coisa de chorar na cruz pra Jesus, meu bem. Coisa mais retrô! Chega dessa história de que “eu sofri muito pra chegar aqui”. A que custo? Qual é o preço do teu sonho? Dez anos de sacrifício pra conseguir um emprego público? E agora? Tá feliz? Foi feliz na caminhada? Ninguém nasce pra catar pedras no caminho; a gente nasce é pra deitar na grama! Se achar uma pedra, meu amor, colecione, mas não se jogue no pedregulho, por favor! Talvez, por isso, nunca tive paciência pra assistir lutas corporais. Tem coisa mais sem sentido? Fortaleza não é resistência à dor. Fortaleza é inteligência, é não adotar o sonho dos outros, é a sensatez de tentar quando sentir vontade, desistir quando sentir vontade, mudar de sonho, mudar de horizonte, ignorar o óbvio, virar as costas e entrar em outra porta, mesmo que escura, mesmo que estranha, sempre que sentir vontade. O problema não é seguir em frente, até porque se demos as costas pra algo, um mundo novo nos surge e ai será um novo olhar e uma nova frente. Aproveite as curvas, as ladeiras, as subidas, os retornos. Linha reta é suicídio, é assassinato do espírito, e, além do mais, não tem a mínima graça. 
         E parem de perguntar pras crianças o que elas querem ser quando crescerem. As crianças tem vontades pra hoje, inventam hoje, desistem hoje, começam e terminam hoje. É preciso educá-las, sim. O mundo pede. Exige. Mas, por favor, não contem a elas que estão sendo treinadas pro futuro, que ela vai ter que ser alguém, que existe uma guerra, que existe um mercado, que ela precisa vencer. Ela vai descobrir tudo isso sozinha. Todo mundo vai ser alguém, um dia. Todo mundo já nasce e se constrói alguém e experimenta muitas faces desse alguém durante a vida. Não treine ninguém pra guerra e pare de achar que está dentro de uma, na luta eterna de meu deus. Tudo é mais simples do que parece ser. 
            Saiba: ninguém nasceu pra ser; não tem que ser; não “é o jeito”; não “é assim mesmo a vida”. Tudo são possibilidades. As portas de entrada são as mesmas de saída. É só mandar um beijo e virar as costas. Eu sei que isso tá parecendo mensagem de autoajuda, mas não é, tá? Se quiser mergulhar no pedregulho e agradecer aos céus pela oportunidade de quebrar pedras, fique bem à vontade. Foi bom conhecê-lo, amigo. Mas, se é isso que você quer, não vou poder ficar, tá? Já virei as costas pras pedrinhas de Drummond há muito tempo. Um beijo e um versejo.


Fortaleza, 16 de maio de 2013.


sábado, 11 de maio de 2013

Por hoje...


Nada nem ninguém

Castelos inteiros
Erguem e desabam
Todos os dias
No meu diário
Sentimentos indevassáveis
Me afirmam e me negam
Amores plantados em ponta de faca
Ponteiro parado
Sol se rebate
Atrás de três nuvens cinzentas
A lua invade o preto da noite
Nuvem
Não vem
Não tem
Ninguém
Se foi
Castelos inteiros
Feitos de areia seca
Voam com pressa
Não tem
Pedra solta no asfalto
Mãos de algema
Coragem de papel
Roupas mofadas no armário
Ninguém
Mais uma vez quatro estações
Em baixo de sol, chuva e flor
Nada acontece
Nada nem ninguém

  -Dinozes-

terça-feira, 7 de maio de 2013

Por hoje...


O poema "Vermelho em dois tons" foi agraciado com o 6º lugar, 
por ocasião de cerimônia de entrega do IV Prêmio de Literatura
UNIFOR (2011), concurso nacional promovido pela Universidade
de Fortaleza, que nesta edição contemplou o gênero poesia, culminando
em lançamento de Coletânea organizada por Batista de Lima, membro 
da Academia Cearense de Letras e professor da Universidade Estadual
do Ceará(UECE) e Universidade de Fortaleza(UNIFOR).


Vermelho em dois tons


As maçãs apodreceram
Um beijo faz sumir o batom encarnado
O sangue corre devagar
Preparando a erupção
A timidez enrubesce  as maçãs podres
Mas as unhas permanecem ousadas
E eu já disse que não gosto de cerejas
Quebrou o salto do scarpin rouge
Não há problema
Sapatilhas doem menos
Hoje é dia de pirofagia
Tragam o vinho e as taças
Desate o laço deste vestido quente
E me envolva em seu sexo rosado
Libere todo o magma úmido e ácido
Me morda morangos  apaixonados
E me enrubesça os seios
E todo o resto que arde
E me lava toda a alma em lava
Hoje eu quero mudar de cor
Menstruar amor
Quero rubro e quero quente
Topos de vulcões em chamas
Feridas de paixão ardente
Que me faça evaporar meus versos
Num paraíso vermelho da cor do céu
Onde haja  duas rosas vibrantes
E nada mais além de amor



-Talita Nogueira-

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Por hoje...

Foto: Dnz/ Praia do Mucuripe, Fortaleza, CE.

Abarrotar

Sem compasso
Nem regra
Meu  traço
Desenhado na areia
Naquele desastre só
Se ache completo
E que a outra metade
Me faça repleto
Me encha de luz