terça-feira, 24 de novembro de 2015

UM LIVRO PARA OUTUBRO



A Menina da Chuva
Bruno Paulino
Editora Premius



                 O livro azul é feito instrumento de mergulho, de imersão nas lembranças de uma rede, um açude, uma conversa com o vovô, uma varanda, ou um banho de chuva ou de bica. Bruno Paulino traz consigo a infância, o menino crescido ou crescendo e o Sertão, este sem tamanho. É doce o azul da menina. Doce também é ler a chuva que acaba, quando não mais se ouvem as gotas cutucarem os telhados, mas não tem fim, assim como as crônicas de Bruno, em que cessam as palavras, mas ecoam o sentir, o cheiro do asfalto quente e molhado e o livro azul iluminando a estante. 
                 Obrigada, Bruno, pelo azul das crônicas. Sejamos sempre gentileza.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

UM LIVRO PARA AGOSTO




Livro: O sol é para todos
Harper Lee
Título Original: "To kill a mockingbird"

“Só existe um tipo de gente: gente.”






Em agosto, mergulhada no sul dos Estados Unidos do início do século XX, cidade de Maycomb.

Toda cultura será perdoada? Todos os erros e atrocidades cometidas sob a guarda dos costumes de uma sociedade são dignos de compreensão? Scout Finch, nossa pequena narradora, aprende e nos ensina, descobre e questiona, entende e se confunde. Com olhos de criança e mergulhada em uma cidade cujos costumes parecem pétreos, indestrutíveis, porém nunca naturais, aceitáveis ou isentos de questionamento, a menina passeia pela humanidade. Como sempre, não me atrevo a descrever a narrativa em sinopse ou a tecer críticas a respeito da obra, mas me permito derramar aqui um pouco do turbilhão de sentimentos que me prenderam, sufocaram, me causaram febre e alívio, durante a leitura doce e amarga deste livro.

Mais uma vez caiu em minhas mãos um exemplar antigo e velho, com cheiro antigo e velho, cor antiga e velha, o que me pareceu bastante adequado, já que preconceito, ignorância e segregação racial têm cheiro de mofo. Poderia facilmente renomear inúmeros personagens com nomes de fungos. Ânsia de vômito, febre constante, aperto no peito e desesperança envolveram aquelas páginas amarelas. Inevitável não lembrar de Chico: "Não tem mais jeito, a gente não tem cura." Ah, humanos, malditos humanos...

Mas é preciso ter brilho no olho pra sobreviver e viver por aqui, não é mesmo? Há um brilho de esperança, pequeno e forte, cheio de vida e promessa de um futuro mais justo. A casa dos Finch é luz naquela cidade; é apedrejada e admirada; é gota d'água integrante de uma grande mudança. Atticus nos ensina que é preciso ser honesto consigo mesmo, fazer a nossa parte, mesmo que pequena, mesmo que ninguém entenda, mesmo que invisível ou condenada por tantos. É a passos pequenos que se segue. Daí, Chico mais uma vez me salva: "Amanhã vai ser outro dia."

Atticus, Jem, Scout, Calpurnia, eu vos abraço e agradeço. Concluir a leitura de um bom livro é sempre doloroso pra mim. A leitura da última página é cheia de saudade e vazia de conformismo. Desta vez, porém, seguem comigo os Finch e a esperança. 


FRASES DO LIVRO para degustar:

“Quando crescer, todos os dias você verá brancos ludibriando negros, mas deixe-me dizer uma coisa, e nunca se esqueça disso: sempre que um branco trata um negro desta forma, não importa quem seja ele, o seu grau de riqueza ou a linhagem de sua família, esse homem branco é lixo.”

 “Existem pessoas que se preocupam tanto com o Outro Mundo que nunca aprendem a viver neste.”

“Antes de poder viver com os outros, eu tenho de viver comigo mesmo. A consciência de um indivíduo não deve subordinar-se à lei da maioria.”

“Eu queria que você visse o que é realmente coragem, em vez de pensar que coragem é um homem com uma arma na mão. Coragem é quando você sabe que está derrotado antes mesmo de começar, mas começa assim mesmo, e vai até o fim, apesar de tudo. Raramente a gente vence, mas isso pode até acontecer.”

“Andar armado é um convite para alguém atirar na gente”.

“Só existe um tipo de gente: gente.”

terça-feira, 1 de setembro de 2015

UM LIVRO PARA JULHO

O MERCADOR DE VENEZA
William Shakespeare
1598

"Terás mais justiça do que querias."




Esta é a segunda obra do clássico autor a que dedico o mergulho e o estudo. Em aventuras teatrais, tive que estudar Hamlet e a única coisa de que me lembro é que foi bastante cansativo (fico ofegante só em lembrar). Tentei ler Romeu e Julieta (porque queijo com goiabada é muito bom e ninguém nomeia coisas sem algum fundamento, né gente? Nomeia sim. Não passei das cinco primeiras páginas.
E mais uma vez, cá estou eu me aventurando em passear com  Shakespeare, na leitura de O mercador de Veneza. Definitivamente, não é o tipo de leitura que me envolve e emociona. Nem o estilo clássico do autor nem a estrutura do texto em peça teatral. Perdoem-me os amantes de Shakespeare, mas o dramalhão pastelão parece que foi escrito para lotar o teatro, prender o público em suas cadeiras com diálogos cansativos e até sonolentos, não fosse o humor causado pelo exagero, e , ao fim, somente ao fim, surpreendê-lo com um grande final de se aplaudir de pé, engraçado e inusitado. A temática, admite-se, é interessante, mas a obra cansa. E, diga-se de passagem, o lado de lá das cortinas teatrais me chama bastante a atenção. O teatro é mágico. A leitura em questão não é.
Uma leitura, porém, é sempre uma leitura, né? Vale experimentar e conhecer um pouco de mundos distantes. Continuarei apreciadora dos aforismos shakespeareanos e de queijo com goiabada. De resto, encerro minha jornada pelas obras do aclamado autor. Tenho pouco tempo e muitos livros. E não há nada de errado nisso.

Próximo livro, por favor!


Não leia...coisa do diabo mesmo.

domingo, 2 de agosto de 2015

Delírio



Somos texto incompreendido e assim findaremos!
Nem tudo pode ser explicado perfeitamente. Quase nada, aliás.


sexta-feira, 29 de maio de 2015

UM LIVRO PARA ABRIL

Leite Derramado
– Chico Buarque de Holanda
Editora Companhia das Letras, 2008

                                                                                                           Praça dos Mártires - Fortaleza -Ceará.



Antes de iniciar a leitura do livro laranja, foi inevitável contaminar-me do conflito de amor e ódio que me envolvo sempre que se trata de ler Chico na forma de romance. É por amar tanto o poeta que se torna uma verdadeira frustração procurá-lo em seus romances desconexos. Não o encontro. Nunca. É outro Chico.

Leite Derramado é mais do que o próprio título sugere: é lamúria, nostalgia, choro e arrependimento. É saudade, mágoa, ausências, solidões acumuladas. É vida que corre a galope. São voos sem despedidas.  É abandono e decadência. É acúmulo. É vida derramada. É morte.

A obra é uma narrativa lenta, idosa, cansada, confusa e amarga. Num leito de hospital, as memórias vão sendo compartilhadas para a enfermeira, para a filha, para quem tiver por perto, pra nós. É um peso que precisa ser dividido.


Derrama-se um passado centenário...e nesse leite tem amor, tem exagero e ciúmes, tem conquista e desejo, tem orgulho, perdas e pedras, tem vida, homem e peito.  Tem barco, praia e mulher. Tem preconceito, segregação, racismo e oportunismo. Tem Brasil e tem Chico. Tem vida.


A leitura se arrasta de muleta e voz cansada, mas a gente se acostuma. É começar o livro com a impaciência de um neto para assuntos de oligarquia e posses e remédios... e amadurecer, engrandecer-se, até colocar-se nos olhos serenos e pacientes que uma enfermeira de uma lar de idosos deve ter. E ouvir, deixar repetir, sorrir, compadecer, não duvidar e jamais ousar pensar que aquela dor não foi tão severa assim, que aquele amor não foi tão intenso, que aquele grito não tem razão de existir e que não há tempo e espaço para lamento. É ler e deixar derramar, até, por fim, perceber que é tudo tanto...é tanto sentir...


Trechinhos para degustar:

“ Se amanhã eu morrer envenenado, todos aqui hão de me ver nessa televisão que não desligam nunca. Esta pocilga será interditada pela vigilância sanitária, e voltarei para puxar seus pés, e vocês vão dormir na rua.”

“Que fique entre nós dois, mas ultimamente ando muito agitado, com certeza estão trocando meus remédios. Não duvido que ponham arsênico na minha comida, e se o pior me acontecer, não perca por esperar, os jornais cuidarão de dar notícia.”

“Pouco importa que entrem meliantes pela minha casa, e mendigos e aleijados e leprosos e drogados  e malucos, contanto que me deixem dormir até mais tarde. Porque todo dia é isso, acordo com o sol na cara, a televisão aos berros, e já compreendi que não estou em Copacabana, foi-se o chalé há mais de meio século. Estou neste hospital infecto, e aí não vai intenção de ofender os presentes.”

“E corava pouco a pouco até ficar bem vermelha, como se em dez minutos passasse por seu rosto uma tarde de sol.”
“A um palmo de distância dela, eu era o maior homem do mundo, eu era o sol.”


p.s: Te odeio, Chico.
p.s .2 : Mentiraaaaaa

"Chego a mudar de calçada quando aparece uma flor
e dou risada do grande amor....mentira..."

segunda-feira, 25 de maio de 2015

UM LIVRO PARA MARÇO

Março já passou faz um tempinho, mas como as águas continuam a rolar, ainda é tempo para compartilhar a leitura do mês. Então, lá vai...


No Mundo da Lua 
- Dr. Paulo Mattos
(Perguntas e respostas sobre TDAH, em crianças, adolescentes e adultos)

A leitura do mês de março foi de teor técnico-científico e informativo. 
O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade é um assunto atual, cheio de controvérsias e que desperta bastante curiosidade. 
O livro vem no formato “perguntas e respostas” e, por isso, é de leitura fácil, prática e acessível. Para quem nunca ouviu falar do TDAH, segue abaixo uma breve definição retirada do site da Associação Brasileira do Déficit de Atenção http://www.tdah.org.br/br/sobre-tdah/o-que-e-o-tdah.html, responsável, inclusive, pela edição da obra: 
(Dá uma olhadinha no site)

O que é o TDAH?
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Ele é chamado às vezes de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção). Em inglês, também é chamado de ADD, ADHD ou de AD/HD.




O assunto é realmente interessante. Conhecer a si próprio e o outro, entender possíveis transtornos sempre nos remeterá à tolerância. Seja paciente...nunca se sabe exatamente o que se passa dentro do universo interno de cada um ao seu redor.

O que eu percebi da leitura:
1 1. Erros de português ainda me assombram...eu sei que não deveriam (estou trabalhando a “tolerância linguística” em mim), mas, queridos seres escribas, trabalhem para cometer menos erros gritantes, por favor. A nossa língua é a nossa língua.
  2. Leituras que tratam de transtornos mentais são quase sempre arriscadas. Lembre-se de que se identificar com sintomas apresentados no livro não asseguram diagnóstico algum. Procure sempre um médico especialista no assunto.
2  3. Mais respeito com o ritmo do outro, mais tolerância e gentileza.

3 4.É aconselhável experimentar, de vez em quando, outros tipos de leitura, estranhos àqueles aos quais estamos habituados. “Open your mind”.


Vale ler!

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

UM LIVRO PARA FEVEREIRO


LIVRO: Gonzos e parafusos
AUTORA: Paula Parisot
EDITORA: Leya



Comprei o livro pela capa, sim. E gostei das cores que li. Gonzos e parafusos foi uma das aquisições primorosas que fiz durante a XI Bienal Internacional do Livro do Ceará, quando mergulhei durante uma semana num mar de livros à procura de encantamento. Encontrei.

É bem verdade que ao passar os olhos nas primeiras páginas, logo absorvi a angústia enrolada entre as linhas. E me pergunto (não é a primeira vez), por que ler aquilo, pra que buscar e acumular tanto peso nas costas e no coração...não tenho resposta. Acho que sentir é preciso. Ultimamente, não tenho encontrado leituras leves, mas dado de cara com páginas densas e cheias de dramas psicológicos. O livro que escolhi para este mês é um drama extremamente realista, cotidiano, narrado em primeira pessoa, cheio de lembranças, desejos e delírios. É um retrato feito com tintas absurdas e reais, cheia de calos e marcas de expressão.

Da janela do quarto, olhando a chuva e com o dedo a marcar a página do livro, tento imaginar quantos dramas permeiam os apartamentos até onde a minha vista pode alcançar. Cada janela, um drama. Gritos e silêncios ecoam e disputam espaço com o barulho da chuva. Chove lá fora...e chove lá dentro...do livro, de mim, de cada janela, de cada ser, de cada olhar. Por isso, insisto na calma e na paciência com o outro. Pode estar chovendo dentro de quem está a sua frente e você nem percebeu. Os dramas humanos não estão estampados, estão muitas vezes engolidos, mastigados e não muito bem digeridos, inconstantes no pêndulo da ânsia de vômito.

5 coisas que percebi com o livro:
Não se deve cortar as unhas dos gatos, eles precisam delas.
Eu não teria em casa um quadro com o rosto de alguém...dá medo.
Psicólogos e psiquiatras são pessoas interessantes e dignas de observação.
Carregamos muita coisa desnecessária na bolsa, em casa...e na mente.
Para nada há um fim e nem existe volta...tudo continua, o girar não cessa.


Se eu indico o livro? 
Não...ler é coisa do diabo e todo mundo sabe disso.



terça-feira, 20 de janeiro de 2015

UM LIVRO PARA JANEIRO

A MENINA QUE NÃO SABIA LER, VOL 2.
Autor: John Harding, Editora: Leya

(Original: The Girl Who Couldn't Read)

Porque a gente adora adrenalina né?
O vol. 2 da série parece ter sido feito para  ser uma leitura independente do primeiro, mas o conjunto das duas ficou fantástico. Aquele suspense que faz a gente prender o ar e olhar a cada minuto para os lados só pra checar se tá tudo bem por ali...ou se a gente caiu no abismo da história e ficou preso entre as páginas do livrinho maldito. Sabe aquela emoção de sentir seus dedos deslizarem pelo pescoço pulsante de alguém, apertá-lo até ver os olhos se dilatarem, junto ao roxo que transborda do rosto do seu brinquedo esganado? Sabe o prazer de prender jovens mulheres e afogá-las no pretexto de um tratamento que nunca vai funcionar? Sabe aquela sensação de temer o derreter do gelo porque abaixo da camada congelante se esconde um grande feito seu? Calma gente...Eu não matei ninguém...Só sei que tenho que sair daqui o mais rápido possível, com cuidado para não acordar a casa nesse ranger de madeira velha. Assim que eu fechar a porta, apaguem a vela que deixei sobre Hamlet, ao lado da cama. E se perguntarem, eu não sei ler, e esta talvez seja a única coisa a que fui fiel e obediente...ou talvez a melhor mentira que eu já inventei. 

p.s: John Harding, meu amor...parou por aqui, tá?





















Calma, não é spoiler... é só a sinopse da própria editora:

Sinopse: Um acidente de trem. Uma identidade trocada. Os detalhes poderão mudar o rumo dessa história... Depois de viver presa num mundo obscuro, assustador e sem palavras em 'A menina que não sabia ler', a pequena Florence viverá uma nova e misteriosa aventura onde nada é realmente o que aparenta ser e todos podem se tornar inimigos em potencial. Mas onde ela encontrará uma saída? Um aliado? O misterioso médico John Shepherd busca um recomeço para sua vida em um lugar nada promissor - uma ilha que funciona como uma clínica psiquiátrica exclusivamente para mulheres. Nesse antro de segredos e sofrimento, Shepherd tentará esquecer seus pecados devolvendo a humanidade às pacientes. A primeira em quem vai experimentar sua doutrina de cuidados, o 'tratamento moral', é uma atraente jovem pálida de cabelos escuros que não se lembra do próprio nome, fala de modo estranho e não consegue saber quando e como chegou àquele lugar. Por que afinal ela desperta tanto a curiosidade do médico? Entre pacientes mais inteligentes que as próprias enfermeiras responsáveis por elas, segredos por todos os lados e figuras assombrosas (e assombradas) percorrendo misteriosamente os corredores da clínica durante a noite, as vidas de Florence e John Shepherd estarão mais ligadas do que podemos imaginar... Arrisque-se e tente achar uma saída no labirinto claustrofóbico criado em 'A menina que não sabia ler volume 2'.

















Eu recomendo este livro?
Claro que não...ler é coisa do diabo!

Pra vocês, um beijo e um versejo