quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Publicando...

"A Fortaleza dos versos inacabados", crônica publicada 
na Coluna Olhar sobre a cidade da Revista Siará
-Diário do Nordeste no domingo, 
4 de agosto de 2013.
















          

A Fortaleza dos versos inacabados

         Descobri há algum tempo (no eterno descobrir das coisas) que, para todo e qualquer poeta, os lugares não inspiram poesia, eles são a própria poesia.

     Uma cidade é rabiscada de versos calados, e cabe aos poetas mastigá-los em essência, triturar partícula por partícula de cheiro e cor, de lágrimas e sorrisos, arrastando os pés descalços em toda sua textura de asfalto ou terra batida para, só depois, cuspir versos no denunciar da ilustração, versos medidos ou desmedidos, cantados, gritados, sussurrados num livro de cheiro bom ou na parede de uma escola qualquer. 

       A Fortaleza que descobri, há pouco, é uma fortaleza de sensações, que brada a ressaca do mar até o sertão, é fortaleza poética que inspira amor e ódio. Abençoado seja quem a batizou, Fortaleza! A palavra é forte, não por ser inabalável, mas por conter tudo e mais um pouco do que cabe num coração. E, sabe-se bem, não precisa ser poeta pra pesar o quanto cabe num espírito, feliz ou despedaçado que seja.

         A Fortaleza em que cabem a força dos verdes mares, dos pescadores, das jangadas que partem na madrugada, as histórias à beira-mar, as corridas em fim de tarde que levam ao Mucuripe, as banquinhas de peixe, as Iracemas e os Martins a assistirem ao nascimento dos novos guerreiros, o pôr do sol nos “píers” da Praia de Iracema, o aglomerado solitário dos prédios a desviar a teimosa maresia. 

        A cidade guarda, ainda, o vendedor de coco e de tapioca, a saída apressada dos shoppings e centros comerciais, as conversas de escritórios, as buzinas de ônibus.

        Feito coração pulsante, a cidade é tomada de sentimentos, e as lágrimas tem escorrido nos estádios e nas ruas, nos prós e nos contras, aos gritos de gol ou de revolta. Os olhos vêm denunciando um brilho cada vez mais forte, dignos dessa terra que teima em ser dona do sol. 

       Sob o calor que escalda ou a chuva que lava, os espíritos tem se encontrado por ai, cheios de vontades e esperanças. A nossa maior liberdade é poder estar sempre na busca da felicidade. Nós sabemos o caminho, afinal aquela luz no fim do túnel é ou não é nossa? De testa franzida a olhar o sol, a cidade caminha ao som das marés. A poesia não ousa silenciar.

           A força de Fortaleza é o pleonasmo mais bonito que já pôde ser dito. Gramáticos, me ouçam sem fazer careta:  Nossa Fortaleza  é forte que só a peste! Traz a destreza e o desastre dos verdes mares. Ora serena, ora revolta. Fortaleza se movimenta e acalma. Proclama guerra aos brados nas ruas e nas praças.  Faz amor à sombra dos coqueiros.

         Feito maré que invade a rua e lava a calçada, os nossos fortes gritam revolução em coro, cantado na dor, nas ruas, corados de amor. 

         Minha Fortaleza brada poesia ainda sem nome, sem rima nem métrica, mas, com a força de sempre, transborda-se e inspira, sem olhar pra trás. O sol surge logo ali.

Fortaleza, 4 de agosto de 2013.

-Talita Nogueira-

Um comentário:

  1. Que a sua visão de Fortaleza e/ou sobre Fortaleza continue assim!! Sobre a cidade...Entendo que seja realmente forte ante aos maus tratos e negligências dos governantes (Estaduais e Municipais) que passam(ram) por ela. Principalmente na defesa do Patrimônio Histórico Cultural. Parabéns pelo BELO blog. Condiz com a criadora.

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