sábado, 10 de agosto de 2013

Quando olho pela janela...


                          Portais Mágicos

              Aeroportos são, definitivamente, meus portais preferidos. A gente entra por uma porta e quando sai, já é outro mundo. Fantasticamente. É nos aeroportos que eu me sinto plena, inteiramente eu, como vim a este mundo e como me despedirei dele. Sozinha, com pouca coisa nas mãos pra dizer que é minha, e só de passagem. Alguma coisa me acompanha, de alguma forma, numa mala pequena. Tudo muito imprensado, apertado dentro dela; Alguma coisa que eu talvez precise, outra só por precaução. Muito do desnecessário que a gente insiste em carregar consigo. Os líquidos e os cortantes me acompanham ali, de longe. A modernidade líquida e cortante. Desnecessária. Ao atravessar meus portais sempre me deparo, de repente, com ela: a mala cheia do vazio que me segue. A plenitude tá comigo, me acompanha de perto, dentro de mim. Só e plena, sigo ritualmente a desesperadora e gostosa passagem. Pelo saguão, inteira e volátil, piso o chão feito rio, que nasce e morre a cada passo, e que, por isso, a cada milímetro a frente já não é o mesmo.                
               Na lojinha de presentes, a moça procura a lembrança que vai levar da cidade do sol pra sua mãe, pro seu irmão, pro seu avô.  Eu, a olhar o espelho bonito da vitrine, encontro os meus olhos e procuro a lembrança que vou levar pra mim mesma quando atravessar o portal. Vou levar de mim o cheiro de água corrente; e do que morre ali no espelho (e sempre morre algo) deixo pra moça da loja, que me olhou nos olhos e não disse nada. A família se enche de fast food antes do voo pra Bariloche. A mulher sentada na mala, não por falta de assento, parece ser do tipo que senta na mala pra que o desnecessário não fuja de perto dela. Aquele senhor, que sempre tá dormindo ali na cadeira azul, deve ter um reloginho no coração que o acorda no horário certo de embarque. A criança empurra o carrinho de malas, como quem empurra as esperanças pra o amanhã. O som ambiente da loja do lado, quase me esqueço de mencionar,  não decide entre o regional e o sei lá o que. É preciso agradar a todos. Não agrada ninguém. Na verdade, ninguém ouve o que toca ali. O barulho do aeroporto é barulho de gente coberta de ansiedade. Gente ao telefone, cheia de saudade, de dor, ou de alívio. Ou até gente que muda de Estado como quem vai da sala pro quarto, sem ao menos parar pra olhar a pintura pendurada no corredor. 
               
             O desnecessário já foi despachado. Vou-me inteira e breve respirando o cheiro de transição. Não me dou o direito de conversar com ninguém. A passagem deve ser só minha. Alçar voo e me encontrar do outro lado, uma outra parte do inteiro que me segue com uma outra parte do inteiro que eu majestosamente crio. Aeroportos são portais lúdicos. Eu...ainda não sei o que sou, mas posso ser lúdica também e, dentro dos portais me acho em essência e livre das criações. Me vejo plena e vazia, sozinha e finalmente encontrada, liberta por alguns instantes das verdades que a gente inventa a cada pisar e a cada olhar que a gente topa, em um mundo e outro. Pronta para criar, me faço flor arrancada e sem raiz. E voo.

Em dezembro de 2012.

Um comentário:

  1. Olá TALITA.

    Voltarei sempre, pois gostei realmente de tudo que vi e li.

    Seu texto, a formatação do seu blog,tudo bem bolado e bonito.

    Parabéns ,mesmo!!!

    Na oportunidade, comunico que em um dos nossos blogues o : “SEXO É UM PRODUTO DE CONSUMO” ,estamos colocando várias matérias para a discussão destas novas tendências da pluralidade de gêneros sexuais e suas implicações imediatas para a sociedade.
    Nossa formação em Ciências Sociais, levou-nos a repartir com todos estas reflexões que, com a participação de todos , irá enriquecer o entendimento desta nova e vigorosa revolução social, da nossa contemporaneidade.

    No meu outro blogue HUMOR EM TEXTOS, com 2250 seguidores, você encontrará,muita gente igual a nós para conversar.

    Espero por você.

    Um abração carioca

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